sábado, 13 de diciembre de 2025

A Lagarta

Sonhei com uma lagarta.
Não me lembro do sonho inteiro — apenas da presença.
Ela estava ali, no meio do caminho,
como a pedra de Drummond,
existindo sem pedir licença,
obrigando meu olhar a parar.

Horas depois, já desperta,
indo ao trabalho,
lá estava ela outra vez.
Peluda, rechonchuda, atravessando devagar
o caminho,
como quem não tem pressa de chegar
porque confia no tempo.

Parei.
Não por piedade, mas por reconhecimento.
Havia algo de sagrado naquele atravessar.
Permiti que seguisse em direção ao jardim,
como se eu mesma estivesse aprendendo
a respeitar os processos invisíveis da vida.

Ah, as mudanças…

O fim do ano se parece com as lagartas:
tempo de espera,
tempo de silêncio,
tempo de transformação.

Elas sabem — mesmo sem saber —
que um dia serão borboletas.
E então deixarão o chão
para ganhar o céu,
deixarão as folhas
para buscar as flores.
Porque lhes será concedida
vida nova.

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