Difícil é ser
quando o medo habita a mente.
Vivo em fuga —
não do mundo,
mas de mim.
Ontem eu me reconhecia no espelho da alma,
hoje me atravesso como estrangeira.
Sou casa onde já não sei morar.
Meus arrependimentos me acompanham
como sombras ao entardecer:
quando penso ter aprendido,
o erro retorna
e eu caio outra vez.
Por que a santidade é tão íngreme?
Por que o céu parece tão alto
para pés tão feridos?
Os santos…
ah, os santos merecem toda a glória.
Ser fiel quando a carne treme
é heroísmo silencioso,
visto apenas por Deus,
Senhor de tudo e de todos.
Eu pensei que conseguiria.
Prometi firmeza.
Mas minha alma, rasgada,
volta ao pecado
como quem confunde prazer
com alívio.
Mas que prazer é esse
que apaga a luz
logo depois de acender?
Ah… o pecado é assim:
oferece mel
e cobra fel.
Durante o toque, ilude;
depois, devora.
E como Adão e Eva,
cubro-me de folhas,
baixo os olhos,
escondo-me do Pai
— não por falta de amor,
mas por excesso de vergonha.
Como pedir perdão outra vez?
Setenta vezes sete…
e eu já perdi a conta
das minhas quedas.
Pobre alma minha,
o que fizeste de ti?
Já não sei se sou digna do céu.
Tento levantar os olhos,
mas o peso do que fui
me curva o rosto.
O arrependimento dói.
O silêncio dói.
O que fazer
quando já não sei rezar?
Aceitar o destino?
Mas que destino pode haver
para quem tropeça sempre
no mesmo chão?
Então Ele vem.
Não acusa.
Não se afasta.
Apenas segura minha mão ferida
e diz, sem pressa,
com voz que restaura:
“Por ti, estou aqui.
Ainda.
Sempre.”
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